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Foto do escritorMariana Pavan

Quando o conhecimento dá as mãos à curiosidade

Uma das coisas mais interessantes (e bonitas) de acompanhar durante os workshops do DQEF é as pessoas perdendo o medo e ganhando mais confiança em alguma ação e também expandindo o olhar para coisas que antes passavam despercebidas.

O perder o medo fica bem claro principalmente na furadeira. O primeiro furo é meio tímido, ainda entendendo como aquela máquina funciona, como eu seguro, quanta força eu faço… aí o primeiro furo sai meio torto. Elas olham com aquele olhar de frustração. O segundo furo sai mais retinho. O terceiro vai com metade da força. E daí pra diante, a frase mais ouvida é “Caracas, não tinha ideia que isso era fácil assim! Quero comprar uma furadeira hoje, vou pendurar tudo em casa!!”



Gabi, descobrndo as maravilhas que uma furadeira pode fazer

Também, quase toda turma, depois que falamos de pintura e revestimento de paredes, tem duas ou três mulheres que comentam sobre defeitos ou detalhes das paredes dos lugares onde o curso está acontecendo. Do tipo “Mari, aquele buraco ali é onde caiu a massa e pintaram em cima, né?” ou “Ah, ali dá pra ver que a fita crepe foi colada torta, porque a borda da pintura não ficou reta”, e por aí vai. Isso é bem significativo e é algo que a gente sempre preza muito, esse lance de trazer um conteúdo que, além de prático, útil e aplicável, sirva também como um instrumental interno que depois cada uma vai juntar com sua criatividade, suas vontades, suas curiosidades, e fazer o que bem entender com eles. Depois que aprendemos, começamos a prestar mais atenção ao nosso redor É quase como se um outro lado do mundo e dos ambientes que nos cercam fosse se revelando pra gente . Quem chega com bastante medo de elétrica, sai olhando para uma tomada de uma forma totalmente nova, entendendo porque aquela é 127v e quais fios tem ali e porque ela é diferente de uma 220v. E é sempre uma alegria quando a gente recebe mensagens do tipo “Mari, cheguei em casa e fui olhar meu quadro de luz, e ele é assim, ou é assado - eu nunca tinha reparado nisso!” Quem chega com medo da furadeira, sai já falando sobre todos os quadros que vai colocar naquela parede que andava tão sem graça, da prateleira que vai pendurar junto com o filho... E claro, sai se sentindo a mulher maravilha, pois há que se admitir, dominar uma furadeira é libertador (e muito incrível). Por isso, vejo que esse conhecimento e esses pequenos (grandes) consertos, às vezes, acabam sendo um veículo pra gente chegar em outro lugar. Gera um aprendizado e um resultado bem prático, mas que desperta uma curiosidade sobre as coisas, sobre novos assuntos, sobre temas e atividades que às vezes eram completamente desconhecidos, ou que nunca havia chamado nossa atenção.

Não é só o fazer pelo fazer

E pra mim, essa é a beleza da coisa, trazer uma ferramenta nova para uma pessoa que tem em si todo um mundo de referências, habilidades, desejos e curiosidades… e é bem, bem impressionante ver o que cada uma é capaz de fazer com isso. Digo que quando a gente une o conhecimento à própria criatividade, ninguém segura a gente. E eu acredito nisso, de verdade. Uma marceneira muito bacana e que sempre acompanho, a Fernanda Tosta, tem uma frase que diz: "Não é só fazer pelo fazer, não é a experiência pela experiência... Mas sim o que a gente busca através dessa experiência." E eu concordo e acho até que às vezes a gente descobre muita coisa que nem buscava, mas que se abre dentro da gente quando enfrentamos algo que é desconhecido ou que nos dá algum receio. Isso sem nem falar do impacto (bem mais subjetivo) que isso pode ter sobre nossas próprias concepções e limites… fico impressionada ao ouvir as reflexões de algumas das mulheres, que falam sobre como isso as fez perceber padrões e limitações em áreas da vida completamente diferentes daquelas que trabalhamos no workshop. Mas, esse vai ser só um spoiler, pq esse assunto é bem significativo e merece um post só pra ele : ).

E você, já fez alguma coisa que te abriu um horizonte que nem imaginava? Conta pra gente!

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